Ana Teberosky fala um pouco sobre a importância da riqueza do vocabulário no dialogo com a criança
Na
intenção de que as crianças respondam rapidamente a comandos do dia a
dia, os adultos tendem a usar uma linguagem simplificada, tirando delas a
chance de ter acesso à diversidade do idioma. Quando o professor adota
essa postura em classe e não utiliza construções e vocabulários mais
complexos com os pequenos, está não só negando informações a eles mas
também impedindo que se crie uma equidade de saberes na sala – uma vez
que as relações familiares são diferentes e cada criança tem um
repertório.
Como os adultos influenciam na construção da linguagem infantil?
ANA TEBEROSKY A
aprendizagem de uma língua acontece inicialmente no contexto familiar,
meio em que adultos e crianças interagem naturalmente. Estudos têm
mostrado que, nessas relações, nem todas as construções de linguagem
aparecem de maneira igual. Os diálogos se baseiam principalmente em
intenções específicas – questionar, dar ordens e fazer pedidos – em que
predominam certas estruturas de frase, como as perguntas e as colocações
imperativas.
Por que não se deve simplificar o diálogo com as crianças?
ANA Quando
você conversa normalmente com elas, permite que desenvolvam habilidades
de argumentação e construção de frases mais complexas, para além da
resposta imediata a uma questão. O diálogo com a criança deve ser rico
em vocabulário. Os especialistas defendem que, quanto maior a variedade
de modos de interação, maior a gama de estruturas gramaticais e
vocábulos aos quais a pessoa tem acesso e mais possibilidades de
compreender a estrutura da língua. Ao ouvir uma palavra que não conhecem
– o adjetivo “orgulhoso”, por exemplo -, os pequenos podem perguntar:
“O que quer dizer orgulhoso?”. Esse processo de compreender o que já
sabem, identificar o que ainda não sabem e questionar o adulto é
fundamental.
Como o nível socioeconômico da família interfere na aquisição da linguagem?
ANA Ele
não influi diretamente, mas pode ter um impacto indireto. Sabemos que
existem diferenças culturais relacionadas à linguagem. Há adultos que,
na produção da língua oral, têm marcas de registro escrito, outros não
as têm, por exemplo. Isso exerce influência sobre o que se fala, como se
fala, em que oportunidade se fala e o que se espera das crianças.
Fatores culturais e educativos são muito importantes nesse sentido.
Na escola, o professor recebe crianças de contextos culturais distintos. Como lidar com essa diversidade?
ANA O
educador precisa interagir com os pequenos para conhecer os registros
de fala que cada um possui. Pode, então, planejar os momentos de
comunicação. É importante ter clareza do que deseja que a turma aprenda e
estar atento para garantir que os gestos e as expressões usados em
classe sejam coerentes com essa expectativa. Se, por exemplo, o
professor quer promover o desenvolvimento da linguagem de um grupo de
crianças de 3 e 4 anos, mas sempre se coloca frente à turma e faz um
longo monólogo, dá pouco espaço para a interação individual. Ter
consciência do seu objetivo é pressuposto para conseguir criar condições
de alcançá-lo.
As práticas de leitura também auxiliam na construção da linguagem dos pequenos?
ANA Sim,
com certeza. Tanto na família quanto na escola, a leitura é uma
atividade muito atraente porque apresenta ao interlocutor os diferentes
mundos linguísticos possíveis. Devemos ler para as crianças não só
porque elas ainda não são leitoras autônomas mas também porque a
linguagem dos livros é diferente da que se produz em uma conversação –
ela tem maior densidade lexical e diversidade de construções.
Há um modo ideal de conduzir essa prática na Educação Infantil?
ANA Para
uma boa leitura, alguns questionamentos são fundamentais: qual livro
será lido, como e em quais condições. O Brasil conta com uma produção
incrivelmente boa, de muitos autores. Existem obras indicadas para
determinadas faixas etárias e essas referências precisam ser levadas em
conta. Vale também organizar o ambiente, que tem de ser confortável.
Esse momento é fundamental para o aprendizado e o desenvolvimento das
crianças, tanto do ponto de vista cognitivo como linguístico.
Ler uma história é diferente de narrá-la de memória? O que é mais indicado na escola?
ANA No
escrito, você lê sempre o mesmo texto, enquanto a narrativa depende da
nossa capacidade de memorização. Há contadores de história que decoram
um conto e podem repeti-lo várias vezes e outros que vão fazendo
alterações. As crianças são sensíveis às mudanças, então, se lhe
apresentam contos em determinada forma, preferem voltar a ouvir as
mesmas versões. A habilidade linguística de quem conta também deve ser
considerada. A ideia é reproduzir um alto nível de vocabulário e
estruturas gramaticais diversificadas. Nem todo mundo consegue fazer
isso contando uma história e, portanto, a recomendação geral é que se
faça a leitura do livro em voz alta. Isso não quer dizer, no entanto,
que uma prática é boa e a outra ruim. São apenas diferentes.
Como esse trabalho cuidadoso com a leitura influencia no desenvolvimento do vocabulário, da ortografia e da gramática?
ANA As
crianças reconhecem as histórias, memorizam os contos e sabem dizer
perfeitamente o que concerne a um ou a outro. Além da questão do
conteúdo, elas também pensam sobre a forma. Coisas como a pontuação, a
citação direta ir junto ou separada do texto narrativo, símbolos de
admiração e pergunta são formas que elas vão aprendendo no trabalho de
leitura. Há ainda questões ligadas à estrutura narrativa, ao
vocabulário, ao conhecimento de mundo e à literatura. Todas essas
referências podem ser usadas pelos pequenos em suas próprias produções,
quando ditam um conto ou criam um novo utilizando segmentações e
estruturas que aprenderam.
Qual a relação entre esse cuidado na construção da linguagem e a alfabetização?
ANA Nós, como somos muito alfabetizados, não temos consciência de quanto a forma escrita impactou nossa maneira de pensar, de organizar o mundo e de criar nosso próprio repertório. A escrita é uma modalidade de linguagem e se relaciona com ela de diversas maneiras. Do ponto de vista didático, o que nos importa dessa relação é que existe a mútua influência. O desenvolvimento da oralidade serve para a aprendizagem de quem escreve. E vice-versa: o conhecimento escrito ajuda a aumentar o desenvolvimento oral. Vale lembrar que as duas práticas interagem em uma relação recíproca ao longo da história e da vida de cada pessoa.
ANA Nós, como somos muito alfabetizados, não temos consciência de quanto a forma escrita impactou nossa maneira de pensar, de organizar o mundo e de criar nosso próprio repertório. A escrita é uma modalidade de linguagem e se relaciona com ela de diversas maneiras. Do ponto de vista didático, o que nos importa dessa relação é que existe a mútua influência. O desenvolvimento da oralidade serve para a aprendizagem de quem escreve. E vice-versa: o conhecimento escrito ajuda a aumentar o desenvolvimento oral. Vale lembrar que as duas práticas interagem em uma relação recíproca ao longo da história e da vida de cada pessoa.
O fato de estarmos imersos na cultura digital também exerce influência na aquisição da linguagem?
ANA A
presença do digital em nossa sociedade é indiscutível. As crianças veem
esse uso no dia a dia e podem explorá-lo de diferentes maneiras.
Telefones celulares e computadores são utilizados para a comunicação de
modo oral e escrito – possibilitam falar, escutar, mandar mensagem e se
ver por meio da tela. A distribuição das tecnologias é até mais
igualitária do que a dos livros. Os pequenos trazem esses contatos para a
escola e os educadores têm de aprender a trabalhar com eles. Muitos
ainda não sabem ao certo como as crianças podem usar a tecnologia para
produzir informações novas. Por isso, desenvolver atividades usando
meios digitais exige reflexão e planejamento. É importante estudar as
novas mídias e as possibilidades de empregá-las em sala.
Ana Teberosky fala um pouco sobre a importância da riqueza do vocabulário no dialogo com a criança
Na
intenção de que as crianças respondam rapidamente a comandos do dia a
dia, os adultos tendem a usar uma linguagem simplificada, tirando delas a
chance de ter acesso à diversidade do idioma. Quando o professor adota
essa postura em classe e não utiliza construções e vocabulários mais
complexos com os pequenos, está não só negando informações a eles mas
também impedindo que se crie uma equidade de saberes na sala – uma vez
que as relações familiares são diferentes e cada criança tem um
repertório.
Como os adultos influenciam na construção da linguagem infantil?
ANA TEBEROSKY A
aprendizagem de uma língua acontece inicialmente no contexto familiar,
meio em que adultos e crianças interagem naturalmente. Estudos têm
mostrado que, nessas relações, nem todas as construções de linguagem
aparecem de maneira igual. Os diálogos se baseiam principalmente em
intenções específicas – questionar, dar ordens e fazer pedidos – em que
predominam certas estruturas de frase, como as perguntas e as colocações
imperativas.
Por que não se deve simplificar o diálogo com as crianças?
ANA Quando
você conversa normalmente com elas, permite que desenvolvam habilidades
de argumentação e construção de frases mais complexas, para além da
resposta imediata a uma questão. O diálogo com a criança deve ser rico
em vocabulário. Os especialistas defendem que, quanto maior a variedade
de modos de interação, maior a gama de estruturas gramaticais e
vocábulos aos quais a pessoa tem acesso e mais possibilidades de
compreender a estrutura da língua. Ao ouvir uma palavra que não conhecem
– o adjetivo “orgulhoso”, por exemplo -, os pequenos podem perguntar:
“O que quer dizer orgulhoso?”. Esse processo de compreender o que já
sabem, identificar o que ainda não sabem e questionar o adulto é
fundamental.
Como o nível socioeconômico da família interfere na aquisição da linguagem?
ANA Ele
não influi diretamente, mas pode ter um impacto indireto. Sabemos que
existem diferenças culturais relacionadas à linguagem. Há adultos que,
na produção da língua oral, têm marcas de registro escrito, outros não
as têm, por exemplo. Isso exerce influência sobre o que se fala, como se
fala, em que oportunidade se fala e o que se espera das crianças.
Fatores culturais e educativos são muito importantes nesse sentido.
Na escola, o professor recebe crianças de contextos culturais distintos. Como lidar com essa diversidade?
ANA O
educador precisa interagir com os pequenos para conhecer os registros
de fala que cada um possui. Pode, então, planejar os momentos de
comunicação. É importante ter clareza do que deseja que a turma aprenda e
estar atento para garantir que os gestos e as expressões usados em
classe sejam coerentes com essa expectativa. Se, por exemplo, o
professor quer promover o desenvolvimento da linguagem de um grupo de
crianças de 3 e 4 anos, mas sempre se coloca frente à turma e faz um
longo monólogo, dá pouco espaço para a interação individual. Ter
consciência do seu objetivo é pressuposto para conseguir criar condições
de alcançá-lo.
As práticas de leitura também auxiliam na construção da linguagem dos pequenos?
ANA Sim,
com certeza. Tanto na família quanto na escola, a leitura é uma
atividade muito atraente porque apresenta ao interlocutor os diferentes
mundos linguísticos possíveis. Devemos ler para as crianças não só
porque elas ainda não são leitoras autônomas mas também porque a
linguagem dos livros é diferente da que se produz em uma conversação –
ela tem maior densidade lexical e diversidade de construções.
Há um modo ideal de conduzir essa prática na Educação Infantil?
ANA Para
uma boa leitura, alguns questionamentos são fundamentais: qual livro
será lido, como e em quais condições. O Brasil conta com uma produção
incrivelmente boa, de muitos autores. Existem obras indicadas para
determinadas faixas etárias e essas referências precisam ser levadas em
conta. Vale também organizar o ambiente, que tem de ser confortável.
Esse momento é fundamental para o aprendizado e o desenvolvimento das
crianças, tanto do ponto de vista cognitivo como linguístico.
Ler uma história é diferente de narrá-la de memória? O que é mais indicado na escola?
ANA No
escrito, você lê sempre o mesmo texto, enquanto a narrativa depende da
nossa capacidade de memorização. Há contadores de história que decoram
um conto e podem repeti-lo várias vezes e outros que vão fazendo
alterações. As crianças são sensíveis às mudanças, então, se lhe
apresentam contos em determinada forma, preferem voltar a ouvir as
mesmas versões. A habilidade linguística de quem conta também deve ser
considerada. A ideia é reproduzir um alto nível de vocabulário e
estruturas gramaticais diversificadas. Nem todo mundo consegue fazer
isso contando uma história e, portanto, a recomendação geral é que se
faça a leitura do livro em voz alta. Isso não quer dizer, no entanto,
que uma prática é boa e a outra ruim. São apenas diferentes.
Como esse trabalho cuidadoso com a leitura influencia no desenvolvimento do vocabulário, da ortografia e da gramática?
ANA As
crianças reconhecem as histórias, memorizam os contos e sabem dizer
perfeitamente o que concerne a um ou a outro. Além da questão do
conteúdo, elas também pensam sobre a forma. Coisas como a pontuação, a
citação direta ir junto ou separada do texto narrativo, símbolos de
admiração e pergunta são formas que elas vão aprendendo no trabalho de
leitura. Há ainda questões ligadas à estrutura narrativa, ao
vocabulário, ao conhecimento de mundo e à literatura. Todas essas
referências podem ser usadas pelos pequenos em suas próprias produções,
quando ditam um conto ou criam um novo utilizando segmentações e
estruturas que aprenderam.
Qual a relação entre esse cuidado na construção da linguagem e a alfabetização?
ANA Nós, como somos muito alfabetizados, não temos consciência de quanto a forma escrita impactou nossa maneira de pensar, de organizar o mundo e de criar nosso próprio repertório. A escrita é uma modalidade de linguagem e se relaciona com ela de diversas maneiras. Do ponto de vista didático, o que nos importa dessa relação é que existe a mútua influência. O desenvolvimento da oralidade serve para a aprendizagem de quem escreve. E vice-versa: o conhecimento escrito ajuda a aumentar o desenvolvimento oral. Vale lembrar que as duas práticas interagem em uma relação recíproca ao longo da história e da vida de cada pessoa.
ANA Nós, como somos muito alfabetizados, não temos consciência de quanto a forma escrita impactou nossa maneira de pensar, de organizar o mundo e de criar nosso próprio repertório. A escrita é uma modalidade de linguagem e se relaciona com ela de diversas maneiras. Do ponto de vista didático, o que nos importa dessa relação é que existe a mútua influência. O desenvolvimento da oralidade serve para a aprendizagem de quem escreve. E vice-versa: o conhecimento escrito ajuda a aumentar o desenvolvimento oral. Vale lembrar que as duas práticas interagem em uma relação recíproca ao longo da história e da vida de cada pessoa.
O fato de estarmos imersos na cultura digital também exerce influência na aquisição da linguagem?
ANA A
presença do digital em nossa sociedade é indiscutível. As crianças veem
esse uso no dia a dia e podem explorá-lo de diferentes maneiras.
Telefones celulares e computadores são utilizados para a comunicação de
modo oral e escrito – possibilitam falar, escutar, mandar mensagem e se
ver por meio da tela. A distribuição das tecnologias é até mais
igualitária do que a dos livros. Os pequenos trazem esses contatos para a
escola e os educadores têm de aprender a trabalhar com eles. Muitos
ainda não sabem ao certo como as crianças podem usar a tecnologia para
produzir informações novas. Por isso, desenvolver atividades usando
meios digitais exige reflexão e planejamento. É importante estudar as
novas mídias e as possibilidades de empregá-las em sala.
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