'Brincadeira e responsabilidade', diz potiguar de 11 anos que ganhou ouro na Olimpíada de Língua Portuguesa com cordel
Potiguar Davi Lima, de 11 anos, com professor durante a premiação da Olimpíada de Língua Portuguesa.
Davi Lima representou o município de Bom Jesus, distante cerca de 45 quilômetros de Natal. Garoto recita poesia de cordel desde os quatro anos junto com o pai, que também é poeta.
A feira, a religiosidade e o cotidiano da pequena Bom Jesus, cidade distante cerca de 45 quilômetros de Natal, foram as inspirações do poeta Davi Lima, de 11 anos, para o cordel que ganhou medalha de ouro na final da Olimpíada Brasileira de Língua Portuguesa, neste mês de dezembro de 2019, em São Paulo. O garoto foi o único representante potiguar a alcançar o ouro, entre todas as categorias. O tema central era o local de origem da cada participante.
O responsável pela vitória do estudante da Escola Estadual Natália Fonseca foi o professor João Soares Lopes, que falou da competição para os alunos e incentivou a participação deles. Ao todo, 11 crianças prepararam textos e participaram da etapa escolar. Davi foi o vencedor na instituição, no município, no estado e, por fim, chegou à semi-final e final, realizadas na região Sudeste. "Quando o professor disse que a gente tinha sido selecionado, não acreditei", afirmou o garoto, que se emocionou ao receber a premiação.
Apesar do incentivo da escola, a participação da família também foi fundamental na formação do garoto. Desde os quatro anos de idade, Davi sobe aos palcos junto com o pai, o poeta Jadson Lima, para recitar poesia de cordel. A escrita veio depois, com seis ou sete anos, segundo ele mesmo conta. O jovem faz parte de um grupo de poetas mirins que quer preservar a cultura no interior do estado.
"É uma brincadeira, mas que não deixa de ser uma responsabilidade de manter. É uma arte popular muito bonita, além de ser de família", afirma.
Davi Lima e o professor João Soares Lopes com os demais participantes da Olimpíada de Língua Portuguesa.
A poesia foi escrita no estilo "galope à beira-mar", que contém estrofe de dez versos de onze sílabas. Apesar da tradição familiar, que remete ainda a um tio-avô e ao seu bisavô, o menino garante que não faz poesia por obrigação. O pai, Jadson Lima, corrobora.
"É uma sensação que eu não sei explicar, ver um filho ganhando uma Olimpíada da Língua Portuguesa com a poesia de cordel. É arretado. Antigamente a gente ouvia dizer que os filhos são espelhos do pai. Não é uma regra, mas eu acho legal, bom demais, ter ele nesse caminho. Pena que nossa poesia muitas vezes não recebe o valor devido", afirmou.
Ao passarem para a final, Davi e o professor ganharam um leitor de livros digitais, cada um. Na final, além da própria medalha, o estudante ganhou uma viagem nacional para lazer, enquanto o professor vai receber uma viagem internacional para participar de um congresso na área de educação.
Confira a poesia
Nos dez de galope lá no meu lugar
(Davi Lima)
Lá por detrás das árvores, vinha o sol
Iluminando a rua de minha casa
O astro esplendido quente feito brasa
Levantava no céu feito um farol
E o belo cantar de um rouxinol
Que eu acordei só pra escutar
E por alegria começou a cantar
Na caveira do boi ele fez o seu ninho
Comida trazia pro seu filhotinho
Nos dez d galope lá no meu lugar.
Vendo o sol nascer, botei uma veste
E tive a ideia de escrever em rima
E muito prazer eu sou Davi Lima
Sou de Bom Jesus, daqui do nordeste
Também sou poeta, Antônio é meu mestre
O poeta que sempre me faz inspirar
Com muita alegria eu vou retratar
O amor que tenho pelo meu sertão
E vou escrevendo com muita emoção
Meu lugar que amo, e sempre vou amar.
Perto de Natal, capital do estado
Se chama Bom Jesus, ô nome bonito
E por Frei Damião esse nome foi dito
De um povo ordeiro e bastante educado
Se fores pra lá ficarás encantado
Alegria nas rimas sempre irei botar
E na nossa feira comecei andar
Falei com os feirantes com grande harmonia
E vou caminhando com muita alegria
Essa que é a feira lá do meu lugar.
Saindo da feira eu fui lentamente
E para igreja agora estava indo
Olhei para mesma, alegre, sorrindo
E meus versos fluindo da alma, da mente
Com muito cansaço sentei no chão quente
Olhando a igreja comecei orar
Pedindo para Deus me abençoar
E sob o sol ardente segui minha jornada
Com Deus me guiando nessa caminhada
É a fé que me guia nesse meu lugar.
A água corria por baixo da ponte
E a brisa fria batia em meu rosto
De felicidade fiquei inteiro posto
Que de alegria aquilo era a fonte
Eu olhei atento para o horizonte
Vi que o sol estava pronto pra deitar
E na água fria eu fui me banhar
Olhei pro arrebol com concentração
Minha Bom Jesus é a inspiração
Deu fazer galope lá no meu lugar.
'Brincadeira e responsabilidade', diz potiguar de 11 anos que ganhou ouro na Olimpíada de Língua Portuguesa com cordel
Potiguar Davi Lima, de 11 anos, com professor durante a premiação da Olimpíada de Língua Portuguesa.
Davi Lima representou o município de Bom Jesus, distante cerca de 45 quilômetros de Natal. Garoto recita poesia de cordel desde os quatro anos junto com o pai, que também é poeta.
A feira, a religiosidade e o cotidiano da pequena Bom Jesus, cidade distante cerca de 45 quilômetros de Natal, foram as inspirações do poeta Davi Lima, de 11 anos, para o cordel que ganhou medalha de ouro na final da Olimpíada Brasileira de Língua Portuguesa, neste mês de dezembro de 2019, em São Paulo. O garoto foi o único representante potiguar a alcançar o ouro, entre todas as categorias. O tema central era o local de origem da cada participante.
O responsável pela vitória do estudante da Escola Estadual Natália Fonseca foi o professor João Soares Lopes, que falou da competição para os alunos e incentivou a participação deles. Ao todo, 11 crianças prepararam textos e participaram da etapa escolar. Davi foi o vencedor na instituição, no município, no estado e, por fim, chegou à semi-final e final, realizadas na região Sudeste. "Quando o professor disse que a gente tinha sido selecionado, não acreditei", afirmou o garoto, que se emocionou ao receber a premiação.
Apesar do incentivo da escola, a participação da família também foi fundamental na formação do garoto. Desde os quatro anos de idade, Davi sobe aos palcos junto com o pai, o poeta Jadson Lima, para recitar poesia de cordel. A escrita veio depois, com seis ou sete anos, segundo ele mesmo conta. O jovem faz parte de um grupo de poetas mirins que quer preservar a cultura no interior do estado.
"É uma brincadeira, mas que não deixa de ser uma responsabilidade de manter. É uma arte popular muito bonita, além de ser de família", afirma.
Davi Lima e o professor João Soares Lopes com os demais participantes da Olimpíada de Língua Portuguesa.
A poesia foi escrita no estilo "galope à beira-mar", que contém estrofe de dez versos de onze sílabas. Apesar da tradição familiar, que remete ainda a um tio-avô e ao seu bisavô, o menino garante que não faz poesia por obrigação. O pai, Jadson Lima, corrobora.
"É uma sensação que eu não sei explicar, ver um filho ganhando uma Olimpíada da Língua Portuguesa com a poesia de cordel. É arretado. Antigamente a gente ouvia dizer que os filhos são espelhos do pai. Não é uma regra, mas eu acho legal, bom demais, ter ele nesse caminho. Pena que nossa poesia muitas vezes não recebe o valor devido", afirmou.
Ao passarem para a final, Davi e o professor ganharam um leitor de livros digitais, cada um. Na final, além da própria medalha, o estudante ganhou uma viagem nacional para lazer, enquanto o professor vai receber uma viagem internacional para participar de um congresso na área de educação.
Confira a poesia
Nos dez de galope lá no meu lugar
(Davi Lima)
Lá por detrás das árvores, vinha o sol
Iluminando a rua de minha casa
O astro esplendido quente feito brasa
Levantava no céu feito um farol
E o belo cantar de um rouxinol
Que eu acordei só pra escutar
E por alegria começou a cantar
Na caveira do boi ele fez o seu ninho
Comida trazia pro seu filhotinho
Nos dez d galope lá no meu lugar.
Vendo o sol nascer, botei uma veste
E tive a ideia de escrever em rima
E muito prazer eu sou Davi Lima
Sou de Bom Jesus, daqui do nordeste
Também sou poeta, Antônio é meu mestre
O poeta que sempre me faz inspirar
Com muita alegria eu vou retratar
O amor que tenho pelo meu sertão
E vou escrevendo com muita emoção
Meu lugar que amo, e sempre vou amar.
Perto de Natal, capital do estado
Se chama Bom Jesus, ô nome bonito
E por Frei Damião esse nome foi dito
De um povo ordeiro e bastante educado
Se fores pra lá ficarás encantado
Alegria nas rimas sempre irei botar
E na nossa feira comecei andar
Falei com os feirantes com grande harmonia
E vou caminhando com muita alegria
Essa que é a feira lá do meu lugar.
Saindo da feira eu fui lentamente
E para igreja agora estava indo
Olhei para mesma, alegre, sorrindo
E meus versos fluindo da alma, da mente
Com muito cansaço sentei no chão quente
Olhando a igreja comecei orar
Pedindo para Deus me abençoar
E sob o sol ardente segui minha jornada
Com Deus me guiando nessa caminhada
É a fé que me guia nesse meu lugar.
A água corria por baixo da ponte
E a brisa fria batia em meu rosto
De felicidade fiquei inteiro posto
Que de alegria aquilo era a fonte
Eu olhei atento para o horizonte
Vi que o sol estava pronto pra deitar
E na água fria eu fui me banhar
Olhei pro arrebol com concentração
Minha Bom Jesus é a inspiração
Deu fazer galope lá no meu lugar.
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